PLANEJAMENTOS DE GUERRA ANTES E DEPOIS DE 1945

Palestra proferida em Curso – Memorial da América Latina – 02 de outubro de 2006  

 

 

 

      Ao fim da Segunda Guerra Mundial, um debruçar-se sobre o mapa mundi permitiria observar, em primeiro lugar, que a Europa está dividida e que os fuzis silenciaram, exceto na Grécia, onde um movimento guerrilheiro pretende derrubar a monarquia que voltara a governar o país depois da derrota alemã; em seguida, observa-se que Holanda e França – libertadas pelas forças aliadas que desembarcaram na Normandia em 1944 – e também a Grã-Bretanha voltam a exercer seu domínio na Indonésia, na Indochina e na Birmânia, antigas colônias onde enfrentarão, pouco depois de retomar seu controle, movimentos nacionalistas de inspiração comunista. O movimento em favor da independência, liderado por Ghandi e o Partido do Congresso (Nehru), coloca o Partido Trabalhista Inglês – que ganhara as eleições em 1945 contra Churchill – em difícil situação, levando o Governo de Clement Attlee a conceder a independência da antiga “Jóia da Coroa” em 1947, dividindo o território em dois países: Índia e Paquistão. Na China, o Exército comunista de Mao Tsé-tung, com forte apoio soviético, inicia a fase final da guerra civil que levará à fuga de Chang Kai-chek para Formosa em 1949. O Japão está ocupado pelos Estados Unidos, e a Coréia dividida entre Sul (ocupada pelos EUA) e Norte (ocupada pelos soviéticos). Na África, as antigas potências coloniais mantêm suas posições, embora logo em seguida os movimentos de libertação nacional surgidos na África Negra coloquem em xeque as antigas metrópoles. No Oriente Médio, as antigas potências igualmente mantêm suas posições, embora se possa notar que a União Soviética e a Grã-Bretanha ainda dividem a Pérsia, hoje Irã. O Hemisfério Ocidental (as três Américas) é a única região em que a geografia política não se alterou – descontada a transferência de bases inglesas para os Estados Unidos ainda durante o conflito com base no sistema “lend-lease”.

 

     A divisão da Europa fora conseqüência da evolução da guerra depois que os exércitos soviéticos passaram à ofensiva em 1942 e os aliados ocidentais (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, França e contingentes menores de países ocupados pelos alemães) lançaram a Segunda Frente na Normandia. No seu avanço, os soviéticos ocuparam Polônia, Hungria, Romênia, Checoslováquia, Bulgária, Albânia e a parte oriental da Alemanha, inclusive Berlim. A antiga capital do Reich foi dividida em quatro zonas de ocupação: soviética, norte-americana, inglesa e francesa da mesma maneira que o território alemão. A Iugoslávia não chegou a ser ocupada pelas forças soviéticas, mas o Marechal Tito, líder de uma facção guerrilheira antinazista e basicamente sérvia, expulsou os alemães e estabeleceu um regime comunista independente de Moscou, embora o partido iugoslavo estivesse filiado ao Cominform, organização que substituíra o Comintern (III Internacional). A Áustria, ocupada pelos soviéticos, foi dividida em quatro zonas de ocupação, como a Alemanha. A Itália, que se rendera aos aliados em 1943 – a luta continuou até o fim da guerra contra os alemães que ocupavam parte do país – era de novo um país livre; a Turquia, que ficara neutra, continuou controlando os estreitos; Portugal e Espanha continuaram governados por Salazar e Franco, como uma espécie de recompensa por terem permanecido neutros durante o conflito. A neutralidade espanhola foi a mais importante, já que garantiu à Inglaterra livre trânsito por Gibraltar, podendo abastecer seu exército no norte da África.  

 

     Este é o quadro geopolítico em 1945. O quadro estratégico é igualmente complexo.  

 

      Em 1943/44, depois das vitórias aliadas na África e do desembarque na Itália, os militares norte-americanos deram início ao planejamento estratégico para o após guerra. O fulcro do trabalho era a defesa do território norte-americano, como fora em 1934/39 quando da elaboração dos planos Arco-Iris I a V. Num trabalho desse tipo, o “inimigo” não é escolhido por explícitas posições antagônicas ideológicas ou políticas. No quadro estratégico que se desenha como possível num futuro próximo e/ou remoto, estará projetado como inimigo, o Inimigo Número Um, aquele Estado ao qual se atribuiu maior capacidade militar de colocar em risco a segurança nacional. Seria o que George Kennan chamaria, mais tarde, de planejamento militar em tempo de paz – com todos os riscos próprios desse tipo de estudo. O maior deles é que, uma vez escolhido o inimigo, atribuem-se a ele todas as ações possíveis e traçam-se, em função desse quadro estratégico altamente idealizado, as medidas preventivas necessárias para garantir a integridade do território. Evidentemente, a escolha do Número Um era feita em função de uma percepção da ameaça possível, considerado o quadro mundial em que o país se insere e a sua capacidade militar (capability). Em 1934, por exemplo, quando começaram os trabalhos que resultaram nos planos Arco-Iris, a Inglaterra era considerada pelos Estados Unidos o primeiro inimigo Atlântico em virtude de ser, naquele oceano, o país com esquadra capaz de ameaçar o seu território. Só com a evolução da situação na Europa é que, lentamente, o Inimigo N° 1 passou a ser a Alemanha nazista.

 

     A doutrina que inspirou o planejamento norte-americano que começou a ser feito em 1943 e prosseguiu nos anos seguintes foi a da defesa em profundidade. Adotada essa doutrina, o planejamento que a ela se segue exige que o país estabeleça bases fora do território — e o mais longe possível dele — a fim de que as primeiras escaramuças (ou batalhas) sejam travadas fora desse território e o Governo tenha tempo suficiente para proceder à mobilização.  

 

     A doutrina da defesa em profundidade exigiu que se definissem os países em que os Estados Unidos poderiam estabelecer bases militares e, também, aqueles aos quais seria necessário solicitar autorização para sobrevôo e pouso a fim de que a Força Aérea pudesse projetar rápida e de modo eficaz o poder norte-americano onde fosse necessário. As bases foram consideradas as fronteiras estratégicas dos Estados Unidos. Para além delas, seria possível usar a força para responder a qualquer ameaça que se materializasse ou frustrar qualquer ato de agressão. No interior do círculo delimitado por essas bases-fronteira, os Estados Unidos deveriam ter uma posição sólida o bastante para que seu território se tornasse inviolável.  

 

     Em 1945, o planejamento conduziu a que se considerasse necessário que os Estados Unidos fossem capazes de passar à ofensiva “em tempo” contra a capacidade militar do adversário e estar em condições de fazer a guerra. As bases, pelo planejamento deveriam ser estabelecidas nos países do Hemisfério Ocidental, Europa e Pacífico; a partir delas, além de ter a capacidade de projetar poder e responder a qualquer agressão, os Estados Unidos teriam condições de preservar o acesso a matérias-primas essenciais, negar esses recursos ao inimigo e, na sua tradição política, auxiliar a preservar a paz e a estabilidade internacionais em áreas conturbadas e garantir a liberdade de navegação em todos os mares. O controle dos oceanos Atlântico e Pacífico, negando o acesso ao mar à esquadra do Inimigo era reputado essencial para a defesa do território (como fora em 1934/39), qualquer que fosse a conseqüência política disso sobre a coligação que estava terminando a guerra na Europa e em breve poria um fim nas hostilidades no Pacífico contra o Japão.  

 

     O mapa elaborado por Melvyn P. Leffler (cf. in Leffler & Painter, 1994, 21,) permite ver as bases aéreas no Hemisfério Ocidental e no Atlântico, além das rotas consideradas necessárias para a projeção de poder pela Força Aérea. As bases estariam localizadas em Natal (como o plano Arco-Iris V previa e foi instalada na Segunda Guerra), Cabo Verde, Canárias e Açores. As rotas (que exigiriam, lembre-se, autorização para sobrevôo e pouso) teriam início nessas bases e iriam de Casablanca a Manilha, passando por Trípoli, Cairo, Dahran, Karachi, Delhi, Calcutá, Rangum, Bangcog, e Saigon. Em um relatório de janeiro de 1945, o Departamento da Guerra (o Departamento da Defesa só foi criado mais tarde) instava que houvesse colaboração militar com as Forças Armadas da América Latina para assegurar a defesa do Canal do Panamá e de todo o Hemisfério. Algumas zonas eram consideradas importantes, quer por motivos estratégicos, quer por matérias primas essenciais — o México, o canal do Panamá e áreas de aproximação, o nordeste do Brasil, o estuário do rio da Prata e áreas de aproximação, o estreito de Magalhães, Antofagasta (Chile), Mollendo (Peru). O secretário da Guerra Patterson explicou ao General George Marshall, secretário de Estado, no início de 1947 (antes do enunciado da Doutrina Truman) “que a ameaça de ataque a qualquer forçaria os Estados Unidos a irem em sua defesa, mesmo que não fosse certo que se seguiria um ataque aos Estados Unidos”. Acrescentava que os recursos naturais dessas áreas eram essenciais para o país “porque é imperativo que nosso potencial de guerra seja assegurado… durante uma emergência nacional” (Leffler, cit, pág. 22). Tenha-se presente que a colaboração com as Forças Armadas latino-americanas tinha sido iniciada em 1938, quando os Estados Unidos tomaram consciência dos esforços alemães para cooptá-las na eventualidade de uma guerra, que de fato ocorreu em 1939. Durante a II Guerra Mundial, a colaboração entre os Estados Unidos e muitos países latino-americanos só se fez acentuar.

 

     Estes eram o pensamento estratégico e a doutrina militar norte-americanos ao terminar a II Guerra Mundial. A situação econômica global também deve ser considerada. Os Estados Unidos, em agosto de 1945 (fim das hostilidades no Pacífico) surgiram como a primeira potência industrial e financeira do mundo (o PIB norte-americano correspondia aproximadamente a 50% do PIB mundial de então, e o país era credor da Europa, inclusive da URSS e da China Nacionalista). A Europa Ocidental (Grécia — em guerra civil, Itália, França, Luxemburgo, Bélgica, Holanda e Inglaterra) estavam sofrendo os efeitos da destruição causada pela guerra, sendo o primeiro e principal deles a escassez de moedas fortes para importar tudo o que se necessitava para a reconstrução das indústrias e, especialmente, para assegurar padrões alimentares razoáveis às populações. A Europa Oriental, ocupada pela União Soviética, igualmente sofria com a destruição provocada pela guerra; a União Soviética perdera cerca de 20 milhões de homens durante o conflito e tivera sua indústria destruída em cerca de 30% — o que levou a que as forças de ocupação da Alemanha Oriental desmantelassem as indústrias que estivessem em relativo bom estado e as transportassem em partes para a União Soviética.  

 

     Este quadro econômico-financeiro deve ser considerado, juntamente com os esforços de desmobilização: os Estados Unidos desmobilizaram rapidamente, reduzindo as suas forças armadas a 1,5 milhão de homens; a União Soviética procedera mais lentamente, permanecendo na Europa Central, na Europa Oriental e Alemanha com cerca de 2,5 a 3 milhões de homens.

 

     É preciso olhar a localização geográfica das bases e das rotas aéreas que seriam necessárias garantir pelo planejamento de 1945. A esse dado geográfico, é preciso acrescentar outro, geopolítico especificamente: já nos últimos dias da II Guerra Mundial, os planejadores norte-americanos tinham em mente que não poderia ser permitido que as grandes massas da Eurásia fossem ocupadas pelo Inimigo. Idêntica visão estratégica levara os planejadores do Arco-Iris V a definirem o Atlântico como área de prioridade na hipótese de os Estados Unidos precisarem travar uma guerra em duas frentes: no Atlântico e no Pacífico. É que se o Inimigo conquistasse parte da Eurásia (especialmente a Europa Central e Ocidental) teria à sua disposição os recursos naturais e a mão-de-obra dos países europeus, com o que teria condições de ameaçar os Estados Unidos. Idêntica preocupação determinou a concentração dos esforços norte-americanos no Atlântico depois do ataque japonês contra Pearl Harbour: o assalto à “fortaleza Alemanha”, começando pelo desembarque na África do Norte em 1943 e em seguida na Sicília e na Itália, e depois, em 1944, na França, foi dessa preocupação a prova. Algumas histórias da montagem da segunda frente na Normandia dão conta da resistência que os Comandantes norte-americanos no Pacífico opuseram a que navios de desembarque fossem retirados de seu comando e transferidos para a Operação Overlord (o desembarque aliado na Normandia em junho de 1944). Foi esse temor de que a União Soviética aumentasse seu domínio na Eurásia que levou os Estados Unidos a se oporem à solicitação soviética de estabelecer uma base nos Dardanelos e a ter uma posição firme contra a URSS na Pérsia e na Turquia depois de 1947. Da mesma maneira, houve quem, com posição de influência na Casa Branca, argumentasse que se partes da Europa Ocidental, do Oriente Médio, da China e do Japão entrassem para a órbita comunista, o fato seria incompatível com a segurança dos Estados Unidos. Assinale-se que foi a partir dessa época que “comunismo” passou a ser confundido com “União Soviética”, e o avanço do primeiro tido como progressos geoestratégicos da segunda.  

 

     É importante notar que a mesma preocupação com o avanço soviético levou o Ministro do Exterior britânico, Ernest Bevin (trabalhista) a ter posição muito firme contra qualquer pretensão da URSS de que se considerasse a Líbia como parte do butim de guerra. Bevin temia que, se os soviéticos pusessem o pé no norte da África, a esquadra soviética teria livre e desimpedido acesso ao Mediterrâneo, colocando em risco o canal de Suez. As teses de Mackinder sobre o Poder Terrestre envolvendo o Poder Marítimo não eram invocadas — a perspectiva histórica, no entanto, permite ver que o geógrafo inglês tinha, no essencial, razão em suas proposições de 1904.

 

     Note-se que Leffler deixa claro (pág. 25) que, em outubro de 1945, os Chefes do Estado-Maior Combinado norte-americano acreditavam que a URSS evitaria ir à guerra pelo menos por um período de cinco a dez anos. Em 1947, segundo ele, a Divisão Militar de Inteligência concluiu que “apesar de haver um desenvolvimento global do potencial militar soviético, a capacidade soviética para uma guerra total não é suficiente grande para um ataque militar contra os Estados Unidos, a menos que se trate de um jogo ao acaso”. É igualmente importante não esquecer que, de 1945 a 1949, os Estados Unidos tiveram o monopólio da bomba atômica e que a posse da arma absoluta influenciou muito do pensamento tático (e mesmo estratégico) naquele período.

 

     Este era o quadro geopolítico, geoeconômico e geoestratégico em 1947, quando Truman teve de tomar uma grave decisão sobre os acontecimentos na Grécia e na Turquia. A Grécia, como visto, estava em Guerra civil, a guerrilha comunista pretendendo derrubar o Governo que os ingleses e norte-americanos — sobretudo, os primeiros — tinham colocado no poder após a retirada alemã. O que mais preocupava era a situação econômico-financeira da Europa Ocidental e o temor de que o Partido Comunista pudesse vencer as eleições de 1948 na França e na Itália, afastando esses países do bloco ocidental (que ainda não se constituíra organicamente).  

 

     Antes de prosseguirmos, convém chamar atenção para o seguinte: o planejamento militar em tempo de paz faz-se com base na idéia de que sempre existirá um ou vários inimigos do Estado e, uma vez podendo ser esses inimigos quaisquer outros Estados, um virtual Inimigo N° 1 é determinado, ao qual atribuímos as intenções que permitem se planeje tendo como ponto de fuga o pior cenário — o que significa que atribuímos ao Inimigo aquilo que consideramos que ele é capaz de fazer de pior para nós. Ou, dito de outra maneira, colocamo-nos no lugar desse inimigo e lhe atribuímos tudo aquilo que poderíamos fazer contra um outro caso fôssemos nós o inimigo. Atribuímos ao inimigo aquilo que de pior somos capazes de pensar contra nós mesmos, estando na posição dele. Donde se segue que nossa percepção da ameaça do Inimigo estará sempre certa, a menos que haja informações duplamente confirmadas de que o cenário que foi traçado não corresponde aos fatos.  

 

     As informações que os Estados Unidos tinham a respeito das intenções da União Soviética em 1947 podem ser assim resumidas: não tendo poder militar para fazer uma guerra total, especialmente porque não tinha a bomba atômica, a União Soviética decidira por uma estratégia de aproximação indireta, procurando desestabilizar a “entente” virtual entre Estados Unidos, Inglaterra e França pela conquista do poder pela via eleitoral na França e na Itália, países em que os Partidos Comunistas eram reconhecidamente fortes. Na França, especialmente, a agitação que o PCF promovia, convocando grandes greves, confirmaria a pressuposição de que o voto substituíra o fuzil na estratégia do Kremlin.  

 

     O que se soube depois, especialmente após o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), é que, sem descartar a possibilidade de uma vitória eleitoral, Stalin não desejava uma confrontação, ainda que política, com os Estados Unidos naquele momento. Tanto assim que proibira formalmente, em 1946, qualquer tentativa de o PCF e o PC italiano tentarem chegar ao poder pela via insurrecional, baseando sua ofensiva nos grupos que advindos da resistência armada aos alemães e que ainda mantinham suas armas. Stalin não desejava, de maneira alguma naquele momento, possivelmente considerando a fraqueza militar da União Soviética, alterar fundamentalmente o cenário político europeu ocidental.  

 

     A situação na Grécia tendia a deteriorar-se. Por causa de sua situação econômico-financeira, que se refletia na posição cambial, a Grã-Bretanha decidiu em 24 de fevereiro de 1947 que não mais poderia continuar dando assistência militar e financeira ao regime monárquico grego na sua luta contra a guerrilha comunista. Essa decisão foi comunicada oficialmente aos Estados Unidos em março. Recebida a comunicação, Truman convocou os líderes democratas e republicanos no Congresso para que o subsecretário de Estado Dean Acheson lhes expusesse a situação tal qual vista pelo Departamento de Estado, especialmente à luz do que ficou conhecido como o ”Longo Telegrama” de George Kennan, então conselheiro político na embaixada em Moscou. O telegrama circulou amplamente por Washington e depois foi resumido no famoso artigo que Kennan publicou em Foreign Affairs, assinando simplesmente “X”. O arrazoado de Kennan no “Longo Telegrama” não era de modo algum simplista, muito menos o resumo que fez para Foreign Affairs. O que dele foi assimilado pela direção política do Departamento de Estado e depois pelos militares, porém, foi que o marxismo-leninismo de fato governava as ações do Governo soviético e que o objetivo de todos os movimentos diplomáticos da URSS — e subversivos dos partidos comunistas em alguns países — era a conquista do Ocidente de acordo com os cânones da doutrina. Nessa leitura, a guerra não era inevitável, mas a conquista de países europeus pelos partidos comunistas poderia ser dada como objetivo primeiro da URSS.  

 

     Este foi o quadro que Acheson pintou para os líderes no Congresso, insinuando, também, a “doutrina do dominó”: se por acaso o Governo da Grécia fosse conquistado pela guerrilha comunista, que tem todo apoio da União Soviética, e a Grécia “caísse”, seguir-se–ia, com grande probabilidade, que os comunistas ganhassem as eleições na França e na Itália no ano seguinte. Isso dado, seria difícil sustentar a Turquia, que se defrontava com forte pressão soviética para que o controle dos Estreitos fosse dividido entre os dois Governos. O controle soviético dos Estreitos abalaria as posições inglesas no Mediterrâneo e poderia comprometer o “caminho das Índias” pelo canal de Suez. A base do argumento de Acheson, fundado nas informações disponíveis e nas conclusões tiradas do “Longo Telegrama”, era que a guerrilha na Grécia tinha o apoio da União Soviética.  

 

     A informação estava errada; na realidade, Stalin cumpria o acordo tácito feito com Churchill antes do fim da guerra (que, a rigor, os dois estadistas tomaram como uma piada do inglês) sobre as esferas de influência na Europa após o término das hostilidades. Por esse “acordo”, a Grécia era área de influência inglesa. Ora, o Marechal Tito, que conseguira sua vitória sobre os alemães sem o auxílio soviético, tinha suas idéias sobre a geopolítica dos Bálcãs. Foi tentando realizá-las (o que futuramente se conheceu como sendo uma Federação Balcânica a que os soviéticos se opuseram firmemente, fato este levando ao rompimento de 1948) sustentava os guerrilheiros na Grécia sem que a URSS tivesse a menor participação na operação de apoio.  

 

     Atendendo à sugestão dos líderes, Truman compareceu perante o Congresso e fez a defesa de uma nova política, que consistia em auxiliar financeiramente países que pretendessem resistir a pressões totalitárias. Seu pedido de auxílio financeiro foi aprovado e a “Doutrina Truman” tornou-se guia para a política externa norte-americana durante toda a Guerra Fria.  

 

     A Doutrina Truman não é relevante apenas porque marca o início da Guerra Fria. Sua importância reside no fato de que, pela primeira vez em sua história, os Estados Unidos assumiram o compromisso de engajamento no Exterior sem que tivessem sido provocados por um ato de agressão. Ela igualmente indica que a Administração havia reconhecido que o Inimigo Número Um, idealizado no planejamento militar, era a União Soviética — mais ainda, que a URSS realizava uma política para destruir o capitalismo e implantar em todo o mundo o comunismo, como estava nos ensinamentos de Marx e Lênin. A Doutrina Truman tornava evidente, da mesma maneira, que os Estados Unidos não permitiriam que qualquer parte da Eurásia caísse em poder do Inimigo Nº 1, fosse diretamente por conquista armada, fosse indiretamente pela via eleitoral.

 

     Por sua importância, convém transcrever alguns trechos do discurso de Truman ao Congresso a 12 de março de 1947: “Contra a vontade de um certo número de povos, regimes totalitários impuseram-se recentemente a eles. O Governo dos Estados Unidos fez freqüentes protestos Polônia, da Romênia e da Bulgária”. Em seguida, apelou para que os Estados Unidos “auxiliassem povos livres a manter suas instituições livres e sua integridade nacional contra movimentos agressivos que buscam impor-lhes regimes totalitários. Isso é nada mais do que o franco reconhecimento de que regimes totalitários impostos a povos livres por agressão direta ou indireta minam aos fundamentos da paz internacional e assim sendo a segurança dos Estados Unidos”.  

 

     Truman reconheceu que “o mundo não é estático e o status quo não é sagrado. Mas não podemos permitir mudanças no status quo… por métodos como a coerção ou por subterfúgios como a infiltração política” (Apud Hartmann, 1973, 399).  

 

     A perspectiva histórica permite dizer que a estrada que conduziu à Guerra Fria começou a ser trilhada já antes de Truman comparecer perante o Congresso e enunciar sua Doutrina, com a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) em Petrópolis. Embora se possa argüir que tinha por objetivo defender a segurança e a integridade dos Estados americanos contra agressões vindas de outros Estados americanos, ele se enquadra perfeitamente no planejamento de defesa a que nos vimos referindo. Sua assinatura indica, também, que a diplomacia norte-americana acertava passos com o planejamento da defesa.  

 

     A partir da Doutrina Truman, a História avançou numa velocidade que os diplomatas e os militares não tinham sido capazes de prever:

1947 — Doutrina Truman;

 

1948 — Plano Marshall, com convite a todos os países europeus, inclusive URSS e países satélites. Polônia e Checoslováquia, apesar de ocupadas pela União Soviética, manifestaram seu interesse em ser beneficiadas pelo plano. Bevin e o chanceler francês, Bidault, reuniram-se em Paris com o chanceler soviético Molotov para analisar a proposta de Marshall. No decorrer da reunião, Molotov quis saber quais as condições em que os Estados Unidos dariam sua ajuda à Europa. Nem Bevin nem Bidault souberam responder. Molotov retirou-se, então, da reunião, dizendo estar certo de que a ajuda norte-americana iria contra a “soberania e a independência econômica” dos Estados europeus, pois permitiria que “certas potências fortes” fizessem uso de alguns Estados europeus contra outros de qualquer modo que fosse favorável a estabelecer sua dominação. Os Governos de Varsóvia e Praga desistiram de participar de qualquer organismo criado para receber e monitorar a aplicação dos fundos disponíveis pelo Plano. Apesar disso, dias depois da retirada de Molotov, dezesseis Estados europeus reuniram-se e decidiram criar a Organização Européia para a Cooperação Econômica que passou a coordenar a aplicação do Plano Marshall;

        — o Partido Comunista checoslovaco, com o apoio soviético, dá o que se convencionou chamar de “golpe de Praga”. O Governo de coalizão foi deposto e o PC assumiu o poder. O fato que mais chocou a opinião pública ocidental foi o anunciado suicídio do chanceler Massaryk. À época, com base na palavra francesa fenêtre, (janela) disse-se que Massaryk havia sido “defenestrado”, isto é, jogado pela janela para simular suicídio;  

        — em junho, seguindo-se à decisão aliada de realizar uma reforma monetária nas zonas ocidentais de Berlim, além de unificar as zonas de ocupação na Alemanha, a União Soviética bloqueou o acesso de Berlim por terra. Para responder ao desafio, os aliados montaram uma ponte aérea que transportava tudo o que se fazia necessário, inclusive carvão e derivados de petróleo, para sustentar a população berlinense. A ponte foi suspensa em maio de 1949, depois de terem sido realizados 277.728 vôos;

 

1949 — é criada a República Federal da Alemanha nas zonas ocidentais de ocupação;  

        — termina a guerra civil na China com a vitória dos comunistas liderados por Mao Tsé-tung. Chang Kai-chec retirou-se com seu Governo e seu exército para Formosa (Taiwan);  

        — é criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte. O Congresso dos Estados Unidos vota a lei de Assistência à Defesa Mútua, destinando um bilhão de dólares para a ajuda militar. A pedido de oito Estados europeus membros da OTAN, os Estados Unidos assinam com eles Acordos de Defesa Mútua;

        — a União Soviética explode uma bomba atômica;

 

1950 — o Presidente Truman aprova os planos para uma “defesa integrada” da área da OTAN;

        — a Coréia do Norte ataca a Coréia do Sul. A ONU condena a agressão e aprova sanções militares contra o regime de Pyongyang. Os Estados Unidos designam o Comandante-em-Chefe (General MacArthur) das forças da ONU, que reúnem tropas dos Estados Unidos, da Inglaterra e outros países. A aprovação das sanções pelo Conselho de Segurança foi possível porque a URSS vinha boicotando as reuniões em protesto contra o fato de o Governo de Taipé (China Nacionalista) e não o de Pequim representar a China na ONU. Inicialmente batidos, os exércitos da ONU passam à contra-ofensiva, atravessam o paralelo 38 que assinalava as fronteiras entre os dois países e avançam para o Norte, avizinhando-se da fronteira da China. Os chineses intervêm em massa ao lado dos norte-americanos, obrigando as forças da ONU a recuarem até além do paralelo 38;  

 

1953 — violentos protestos operários em Potsdan, capital da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental). O Exército soviético intervém;

         — morre Stalin;  

         — termina a guerra da Coréia;  

 

1954  — queda de Dien Bien Phu na Indochina assinala o fim da dominação francesa;  

         — assinatura dos acordos de Genebra que dividem a Indochina: Laos e Cambodge conquistam sua independência, enquanto o Vietnã propriamente dito é divido entre a República Democrática do Vietnã (Norte) e a República do Vietnã (Sul);  

         — início da guerra na Argélia;

 

1955 — a União Soviética e os países satélites assinam o Pacto de Varsóvia, que substitui os tratados de defesa mútua assinados separadamente entre a URSS e cada um dos países da Europa Oriental por ela ocupados;  

 

1956 — revolução na Hungria. O Governo revolucionário de Imre Nagy anuncia sua retirada do Pacto de Varsóvia. O Exército soviético intervém e esmaga a revolução;  

         — para evitar que se repitam na Polônia os fatos da Hungria, a URSS substitui o Governo e a direção do Partido Comunista;

         — O Coronel Nasser nacionaliza a Companhia do Canal de Suez. Nasser chegara ao poder juntamente com o General Neguib, em 1952, quando o rei Farouk foi deposto. Neguib foi deposto pouco depois e Nasser assumiu plenos poderes. Para retomar o controle do canal, Inglaterra e França desembarcam pára-quedistas na zona do canal, em aliança com Israel que invade o Sinai a pretexto de combater os fedayen, guerrilheiros que constantemente atacavam assentamentos israelitas perto da fronteira com o Egito. Os Estados Unidos forçam a retirada da Inglaterra, da França e de Israel. O canal permanece bloqueado por alguns anos, o que leva à construção de superpetroleiros para tornar econômica a rota do Cabo;

 

1957 — violentas manifestações camponesas no Vietnã do Sul, incentivadas pelos comunistas que não se haviam retirado para o norte;  

         — a União Soviética lança um satélite ao espaço: o Sputnik. O balanço estratégico está alterado em favor de Moscou;  

 

1961 — os primeiros conselheiros militares norte-americanos chegam ao Vietnã do Sul. É o início do envolvimento dos Estados Unidos na guerra.

 

     De 1945 a 1949, os Estados Unidos gozaram de ampla vantagem no campo tático sobre a União Soviética — vantagem esta que, devido à natureza da bomba atômica, era estratégica. Nesse período, formou-se o caráter da Guerra Fria. Qual era ele? A visão ideológica sobrepôs-se perversamente à geopolítica ou geoestratégica, com o que as relações internacionais entre os dois blocos em que a força das coisas havia dividido o orbe deram-se num clima distorcido: qualquer avanço do que se tinha por comunismo era considerado, pelo Ocidente, sobretudo pelos Estados Unidos, como um avanço estratégico da União Soviética e vice-versa, qualquer avanço da URSS era visto como um passo para o triunfo do comunismo. Da mesma maneira, a resistência aos movimentos nacionalistas (a exemplo da FLN na Argélia) ou de fato comunistas (o Vietminh na Indochina) era vista por Moscou como um avanço estratégico dos Estados Unidos; ou qualquer triunfo geopolítico dos Estados Unidos era tido como um avanço do capitalismo. Da parte dos Estados Unidos, especialmente depois da crise na Grécia, do golpe de Praga e do bloqueio de Berlim, esta percepção passaria a nortear as relações de Washington, e de seus aliados, com a União Soviética e todos os países que, fora da Europa, passaram a fazer parte do grupo dos Não Alinhados, que se haviam organizado a partir da conferência de Bandung, em 1955, ou lutavam por sua independência no que se convencionou chamar de “guerras de libertação nacional”. Da parte da União Soviética, a situação que se criou a partir da Doutrina Truman e do Plano Marshall orientou as relações de Moscou, e de seus satélites, com os Estados Unidos e todos os países que, a juízo da URSS, pertenciam ao chamado bloco ocidental.  

 

     Em 1949, a bomba atômica soviética reforçou as posições daqueles que, no estabelecimento militar norte-americano e em setores da classe política dos Estados Unidos, pretendiam que a política externa norte-americana fosse mais dura e pró-ativa nas relações com o bloco soviético e aos avanços do comunismo no Terceiro Mundo. Ao mesmo tempo, porém, a reflexão sobre os danos materiais e em vidas humanas, provocados pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki, foi sendo associada, fator importante, às conclusões que se retiraram das explosões experimentais da bomba de hidrogênio no atol de Einwetock no Pacífico (a autorização para a construção da bomba fora dada em 1950 no decorrer da Guerra da Coréia) e da explosão da bomba H soviética, dois anos depois; e levaram a que, nos dois países que governavam o sistema internacional, fossem elaboradas doutrinas de emprego das armas absolutas, que iam (pelo menos ao que se sabe no referente aos Estados Unidos) inicialmente do bombardeio de cidades até chegar ao emprego tático e gradual dessas armas no campo de batalha, alcançando o clímax ao atingir todo o território do inimigo. O poder destrutivo dessas armas contribuiu, seguramente, para que, de 1945 até hoje, elas não tenham sido empregadas por nenhum dos dois super-Estados ou quaisquer outros que obtiveram armas atômicas — Grã-Bretanha, França, China, Índia, Paquistão etc. ou Israel, que também possui, segundo todas as análises, a arma absoluta.

 

     O lançamento do Sputnik em 1957 alterou o balanço estratégico porque o território norte-americano ficou consideravelmente vulnerável a um ataque soviético de surpresa. De 1945 àquela data, os Estados Unidos gozaram de ampla margem de vantagem no que dizia respeito aos veículos portadores de bombas convencionais ou atômicas: a aviação estratégica com base na Groenlândia ou na Islândia, e naquelas que haviam sido construídas nos países que assinaram não apenas o tratado da OTAN, mas também o Pacto de Bagdá (que se desfez apenas o regime monárquico foi deposto no Iraque). O Sputnik reduziu radical e drasticamente esta vantagem: o território norte-americano poderia ser atingido apenas 20 minutos depois do lançamento do foguete balístico intercontinental.  

 

     Os Estados Unidos só conseguiram estabelecer o equilíbrio estratégico em 1958, quando lançaram com êxito seu foguete Atlas. A corrida armamentista que se verificou nos dois países a partir de 1960 — quando o mito do missile gap, bem difundido, assustou a elite de poder nos Estados Unidos — não impediu que as relações entre EUA e URSS tivessem uma certa racionalidade, imposta sem dúvida pelo conhecimento do risco que as armas atômicas representavam para seus respectivos países. Foi o conhecimento sem ideologia do que significavam as bombas atômica e de hidrogênio que podiam ser lançadas de terra, ar e mar (inclusive por submarinos) que levou a que em 1968 os dois Governos assinassem o Tratado de Não-proliferação Nuclear, que foi depositado na ONU e aceito pela organização internacional como seu, portanto obrigatório para o mundo. Esse fator estivera presente e guiara as ações de Nikita Kruchev na crise dos foguetes em Cuba, em 1962. A ser correta essa visão do processo, todas as crises que se sucederam após 1968 devem ser vistas como mãos do grande jogo em que cada jogador procurava aumentar sua vantagem, elevando suas apostas, mas sem ultrapassar o ponto, porém, em que o adversário seria obrigado, por N razões internas ou de prestígio internacional, a fazer do jogo um “o dobro ou nada”.

 

     A distorção que o caráter perverso da Guerra Fria provocou nas análises e formulações estratégicas no Ocidente fez que o amplo movimento anticolonialista fosse visto, em toda parte, quando deflagrado, como de inspiração e orientação comunista, vale dizer, soviética. O que releva ter presente quando se procura compreender esse período é que em muitos casos, como o da Indochina — depois do Vietnã —, os responsáveis pela política e pelo planejamento militar no Ocidente não foram capazes de avaliar que sua análise das crises respondia ao modelo imposto pela Guerra Fria: o triunfo do movimento é um triunfo da União Soviética. Os analistas não foram capazes de avaliar as relações internas no chamado bloco soviético nem de ao menos registrar as divergências históricas que opunham o Vietnã à China ou, já no auge da intervenção norte-americana no Governo Johnson, a oposição real entre Pequim e Moscou ou, então, avaliar o quanto a recusa dos vietnamitas à intermediação soviética para que negociassem com os Estados Unidos decorria de sua posição contrária a qualquer interferência externa no processo de libertação nacional. Em última análise, os Estados Unidos não foram capazes de avaliar — dizer admitir seria melhor — que a URSS não podia, nesse terreno, interferir nas ações do Vietnã do Norte.  

 

     O caráter perverso da Guerra Fria orientou todas as ações norte-americanas no Hemisfério Ocidental, amparadas, sem dúvida, pela doutrina militar que orientava as ações norte-americanas no hemisfério. Se as intervenções norte-americanas nos países do hemisfério, abertas ou discretas, muitas vezes combinaram, a partir da abertura do canal do Panamá, o interesse estratégico com o da defesa do status quo oligárquico, a vitória de Castro e sua adesão ao bloco soviético ou à China fez que a estratégia prevalecesse sobre os ideais democráticos alardeados e a consolidação do status quo anticomunista se tornasse o padrão das ações abertas ou ocultas.  

 

     Não se deve supor, a partir do que acima se leu, que a doutrina militar soviética tenha sido meramente reativa, defensiva em termos clássicos. A URSS teve, em muitos momentos, a iniciativa de ações tendentes a consolidar no Pentágono e no Departamento de Estado norte-americanos a idéia de que o desiderato soviético era a conquista do mundo — se não pelo confronto armado direto, pela aproximação indireta.  

 

     Se o bloqueio de Berlim em 1948 pode ser tido como uma das mãos do grande jogo, especialmente porque estava em risco o domínio soviético na Alemanha — peça fundamental na concepção estratégica soviética (e norte-americano-européia!), o golpe de Praga não era dirigido contra o Ocidente, mas destinado a fortalecer a presença soviética na Europa Central e Oriental. Ousaria dizer que, se em Praga o móvel da ação foi preponderantemente político, nos dois casos havia uma visão estratégica coordenando as ações do Governo soviético.

 

     Os soviéticos, da mesma maneira que os norte-americanos, faziam seu “planejamento militar em tempo de paz”; igualmente como a norte-americana, a doutrina soviética tinha como centro a defesa do território. MacKinder e Clausewitz estariam, tudo indica, na base do pensamento estratégico soviético, embora um exame mais atento da evolução dos fatos permite dizer que o Estado Maior soviético decidiu, para opor-se à política de contenção do Ocidente, por outro tipo de aproximação do Inimigo do que aquele sugerido por uma leitura convencional do “Da Guerra”.  

 

     A idéia do Poder Terrestre cercado pelo Poder Marítimo era real em 1945: o Inimigo Nº 1 tinha o maior poder naval da História, evidenciado nas batalhas aeronavais que decidiram a sorte da guerra no Pacífico, e na mobilização da força naval que garantiu o desembarque na Normandia. Afora isso, tinha como primeira linha de defesa natural os oceanos Atlântico e Pacífico. A esquadra norte-americana permitiria o cerco do Poder Terrestre no Pacífico e mares da Ásia, e garantiria a integridade do território em que se situavam os centros de decisão do Poder Marítimo contra ataques vindos do Atlântico ou do Pacífico, igualmente.  

 

     O Poder Terrestre não era vulnerável apenas a Leste, acossado pelo Poder Marítimo; a libertação da Europa Ocidental havia permitido a introdução de um novo fator de desestabilização na guerra, o Poder Aéreo. Ele poderia operar — como demonstrou na campanha dos bombardeios estratégicos de bases — na Alemanha, na França e na Inglaterra, às quais se acrescentariam, depois da assinatura dos tratados da OTAN e de Bagdá, a Turquia e o Iraque. Sem contar que a Leste, com a ocupação do Japão e a permanência de forças norte-americanas no que seria a Coréia do Sul, a aviação estratégica do Inimigo poderia alcançar o território soviético quando e se necessário.  

 

     À medida que as forças soviéticas e aliadas avançavam a leste e a oeste contra a fortaleza Alemanha, os planejadores soviéticos tiveram de tomar decisões em que a História pesava fortemente. O território russo fora alvo, ao longo da história, de grandes invasões vindas do Oriente e do Ocidente, especialmente estas: suecos, cavaleiros teutônicos, Napoleão, Hitler. Seja a Sudeste, seja a Oeste, a União Soviética não tinha como primeira linha natural de defesa um grande oceano ou grandes extensões de terra que permitissem, estas últimas, a redução do momentum militar de possíveis forças invasoras.  

 

     A neutralização da China, com a vitória dos exércitos de Mao Tsé-tung, e a presença soviética no Japão e na Coréia do Norte permitiriam reduzir o perigo, isto é, a percepção da ameaça, a Leste. Em 1949, o triunfo de Mao foi motivo de alívio, embora não se perdesse de vista que a fronteira entre os dois países era extremamente porosa, além de extensa, e que sempre havia razões para crer que disputas territoriais entre os dois países poderiam causar transtornos futuros. No Japão, as pretensões soviéticas para participar da elaboração do tratado de paz e, conseqüentemente, da ocupação, foram frustradas pelos Estados Unidos. O que significa, tudo somado algebricamente (considerados os “mais” e os “menos”) que o cenário a Leste era tranqüilo, mas não seguro.  

 

     No Ocidente, os planejadores soviéticos tinham de encontrar linhas naturais de defesa, levando em conta o poder terrestre e aéreo do Inimigo. Havia os territórios que o Exército Vermelho ia ocupando: eles seriam a primeira linha natural e estratégica de defesa. A crise em torno da Polônia só se explica em função dessa necessidade estratégica de garantir a fronteira soviética contra uma Alemanha que poderia voltar a ser agressiva. Além do problema das novas fronteiras polonesas a leste e oeste, havia o do futuro Governo. No que tange às fronteiras, a URSS não abria mão dos territórios que havia anexado depois da invasão da Polônia em 1939, seguindo-se à assinatura do Pacto Ribbentrop-Molotov, anexação essa que pretendia compensar dando à Polônia uma boa parte da Prússia oriental. O que implicaria o deslocamento de cerca de 3 milhões de alemães para o oeste, potencialmente rico (há de considerar as destruições da guerra) nos setores industrial e de serviços, mas com menos terras férteis que as do leste alemão. O problema do Governo era simples: depois da libertação, a Polônia seria dirigida por um governo de coligação entre os homens que vinham marcados de Moscou e os que estavam em Londres desde o início da guerra, ou Moscou acabaria por impor o seu Governo em prejuízo dos poloneses de 1939? A URSS triunfou nas duas questões.  

 

     Ademais, a ocupação de toda a Europa Central e Oriental mais parte da Alemanha permitiria à União Soviética um respiro estratégico na oposição contra o Poder Marítimo, já que os portos de águas quentes no Báltico dariam ao Poder Terrestre, tal qual na previsão de MacKinder, condições de enfrentar, se não afrontar o Poder Marítimo.  

 

     Para muitos observadores ocidentais, Clausewitz era o grande inspirador do choque que se daria na Europa Ocidental na hipótese de uma invasão soviética, ou na Alemanha Oriental se a OTAN atacasse primeiro. Apenas nessa hipótese. A introdução da bomba atômica na panóplia soviética adiou para as calendas gregas o choque em território europeu. Não eliminou, porém, a pulsão para expandir o poder que está presente em toda política internacional de qualquer potência com consciência de seu Destino. O caminho que levou do Grão-Ducado de Moscou à União Soviética, da mesma maneira que do Governo que resultou das 13 colônias até a República Imperial e Continental nos Estados Unidos foi pavimentado do mesmo material. Isto é, dessa pulsão para expandir o poder, traduzida ao nível da consciência dos dirigentes e até mesmo da opinião pública pela necessidade de expansão para assegurar a estabilidade interna e garantir que a expansão do Capital ou a influência política vá em crescendo sem que, no entanto, essa disputa leve à destruição mútua na hipótese de o Estado expansionista encontrar um adversário na busca de zonas de influência em terceiros Estados, ou em territórios próprios. Não foi Kjellen, ao fundamentar a Geopolítica, quem disse que o natural dos Estados é crescerem?  

 

     Não será descabido afirmar que, primeiro, a superioridade atômica dos Estados Unidos, depois, a paridade nuclear tornaram evidente para soviéticos e norte-americanos que a batalha napoleônica na Europa era impensável — apesar de a OTAN realizar de tempos em tempos manobras na previsão de uma guerra na Europa e de os Estados Unidos reclamarem constantemente dos países europeus membros da aliança que aumentassem seu esforço financeiro de defesa. Colocada diante da situação que a impossibilidade da guerra criava para realizar a pulsão para a expansão do poder na Europa, a União Soviética adotou outra doutrina: a da aproximação indireta. Hoje se pode dizer hoje que essa nova doutrina colocou os Estados Unidos em xeque e contribuiu, em alguns casos, para que a solidariedade atlântica fosse fendida na medida em que Inglaterra e França poderiam buscar objetivos diferentes daqueles dos Estados Unidos no Oriente Médio.

 

     Qual seria o fim da nova estratégia? Este é o ponto crucial a examinar. De nossa perspectiva e tendo em vista os fatos que se seguiram ao reconhecimento da paridade nuclear, ele não era militar no sentido em que Clausewitz estabelece o fim da guerra como sendo impor nossa vontade ao adversário. Era essencialmente político — e sendo político, militar em decorrência, já que buscava enfraquecer o poderio econômico que permitia ao Ocidente fazer o cerco militar da União Soviética. A nova doutrina só poderá ser amplamente compreendida se levarmos em conta que a direção política soviética raciocinava com base no que chamava de marxismo-leninismo-stalinismo — visão do mundo que, apesar de haver congelado o marxismo numa vulgata incapaz de explicar fatos ocorridos no aqui e agora, retinha da doutrina original a visão da expansão do Capital e das condições que permitiriam o fim do capitalismo.  

 

     Se não tivermos presente a visão que os soviéticos tinham da acumulação do Capital não compreenderemos o essencial da nova doutrina — que implica uma grande manobra estratégica. Para os soviéticos, o Capital tem necessidade de conquistar mais e mais territórios para expandir-se, assegurando em toda parte a existência da propriedade privada e também a possibilidade de as empresas norte-americanas (que dominavam o mundo antes da globalização) acumularem fora do território dos Estados Unidos. A essa visão do processo de acumulação do Capital há de acrescentar que o caráter perverso da Guerra Fria também motivava os soviéticos: se o Capital não puder se expandir e o capitalismo entrar em crise nos Estados Unidos, o triunfo do comunismo estará assegurado e com ele o da União Soviética.  

 

     A nova manobra tinha como objetivo primeiro os pontos fracos do capitalismo ocidental, europeu ou norte-americano, mas especialmente este. As crises financeiras que afligiram o mundo depois de 1971, quando Nixon cancelou a paridade ouro-dólar (uma onça troy = 35 dólares), era problema dos Estados capitalistas. Para a União Soviética, o importante era dominar se possível (os Partidos Comunistas ocupando o poder), dirigir se necessário por interpostos Partidos e Governos — mas sempre sem engajar os Estados Unidos — os países em que o Ocidente, particularmente os EUA, buscavam matérias-primas essenciais não apenas a seu esforço de guerra, mas também e, sobretudo, a seu desenvolvimento econômico, ainda que lento.  

 

     Se for verdade, segundo a teoria marxista-leninista-stalinista, que as colônias são essenciais à sobrevida do capitalismo nas metrópoles, o primeiro esforço deverá ser dirigido para libertá-las do domínio europeu na África e na Ásia. Se o canal de Suez é importante, pois encurta o caminho para a Índia, que se criem dificuldades para ingleses e franceses no Egito. Se o petróleo é indispensável à civilização da Europa Ocidental, que se criem dificuldades na Pérsia (depois Irã) e naqueles países árabes que aceitarem uma aproximação política com Moscou. Se para aproximar-se dos árabes é necessário romper com Israel, que o novo Estado seja entregue à sua sorte e não se lhe permita, como em 1973, que destrua o III Exército egípcio (a propaganda falará apenas do ultimato militar convencional soviético, mas não do contra-ultimato dos Estados Unidos à URSS, ameaçando o Armagedom atômico.  

 

     Há dois capítulos dessa grande manobra que não decorrem necessariamente da teoria, misturando-se com o pensamento militar stricto sensu: 1) há que solapar a retaguarda norte-americana no Hemisfério Ocidental, colocando em risco, probabilisticamente, a segurança do canal do Panamá; 2) para assegurar a paridade entre o Poder Marítimo e o Poder Terrestre, há que ter uma esquadra.

 

     A União Soviética construiu a partir dos anos 60 seu Poder Naval. E tal qual preconizava Mahan, ao lado da Marinha de Guerra, um dos grandes investimentos industriais e militares do século XX, lançou ao mar uma Marinha Mercante para atender ao crescente comércio entre a União Soviética, países satélites europeus e os novos alvos da estratégia soviética na África e Oriente Médio. A Guerra do Yonkippur em 1973 abriu a possibilidade de a Marinha de Guerra soviética adentrar sem entraves o Mediterrâneo, criando, segundo alguns, situações embaraçosas para a 6a. Frota norte-americana. Embaraçosas no sentido de provocativas.

 

     Desde a Doutrina Truman, como visto atrás, os Estados Unidos empenharam-se em manter o status quo, embora o Presidente Truman tenha feito questão de afirmar que ele não era estático. A vantagem soviética na nova manobra foi que, onde encontrou condições sociais e políticas para subverter as instituições estabelecidas, a URSS o fez. Onde só poderia contar com o apoio de Governos ditatoriais contrários a qualquer progresso social ou político (como nos Estados árabes), mas que se colocavam contra os Estados Unidos, apoiou-os.  

 

     Em nenhuma região do orbe a incompreensão dos reais objetivos da União Soviética causou mais prejuízos aos Estados Unidos do que na América Ibérica. O caráter perverso da Guerra Fria fez que qualquer movimento contra o status quo ou que atingisse interesses privados norte-americanos fosse considerado um avanço do comunismo e, por conseqüência, da União Soviética. Essa ligação interesse privado=Ocidente feita pelo Pentágono e quase sempre pelo Departamento de Estado foi aproveitada, sempre, pelas oligarquias que viram reforçado seu poder, inclusive pela repressão, levando a que os movimentos não subversivos (para usar a linguagem corrente à época) fossem levados a apoiar-se nos partidos comunistas ou ligados a Moscou, reforçando numa espécie de causação circular o caráter perverso das ações. Ninguém melhor que o Presidente Castelo Branco, em 1967, dias antes de deixar o poder, caracterizou a situação em conferência na Escola Superior de Guerra. Nela, defendendo sua posição favorável à criação da Força Interamericana da Paz, sustentou-a com base no argumento de que uma decisão coletiva e não individual (como fora o caso em São Domingos) permitiria distinguir um movimento social em favor de reformas dentro da ordem democrática de um outro, de fato subversivo, vale dizer, anti-ocidental.  

 

     Infelizmente para os povos da América Ibérica poucos Governos foram capazes de fazer essa distinção e a Guerra Fria encerrou-se, para os ibero-americanos, com as mesmas estruturas sociais e instituições políticas que haviam dado origem ao TIAR em 1947 — exceto, claro está, para os que vivem em Cuba.

 

     O fim da Guerra Fria permitiu que se assistisse a um processo curioso: a Rússia perdeu a condição de Poder Terrestre que, indiscutivelmente, pertencera à União Soviética e se viu ameaçada, no “planejamento militar em tempo de paz”, a Leste e a Sudeste, pelos mesmos possíveis inimigos detectados nos planejamentos soviéticos: o Poder Marítimo envolvendo-a com o poder aéreo e naval pelo Pacífico, Japão e Coréia — e a China nas suas fronteiras. A Oeste, a ameaça era ainda o Poder Marítimo que, depois de 1991, ganhou uma extensa área de defesa natural terrestre com o avanço da OTAN para o Leste e o Centro europeu. A esquadra russa que, em vida da União Soviética, servira de primeira linha de defesa e ataque no mar (submarinos nucleares) deu mostras de padecer de todos os problemas criados pela crise final da União Soviética. Exceto pelo Armagedom nuclear, que a Rússia ainda tem condições de provocar, ela deixou de ser o Inimigo Número Um dos Estados Unidos. Esse lugar foi ocupado até 11 de setembro de 2001, pela China.  

 

     O fim da União Soviética permitiu que os planejadores norte-americanos não mais guiassem seu raciocínio pelo “caráter perverso” que definira o conflito latente entre URSS e EUA. Todavia, ao mesmo tempo, deixou os dispositivos militares da OTAN sem função previsível e o imenso arsenal acumulado desde a guerra da Coréia praticamente inservível em uma guerra convencional, pois não se descortinava adversário à altura em termos de poder militar. O atentado terrorista de 11 de setembro mudou, para os dirigentes políticos e os Chefes do Pentágono, o quadro estratégico: a China foi deixada de lado, temporariamente, e o terrorismo da Al Qaeda alçado à categoria de Inimigo Nº 1.

 

     O terrorismo, convenhamos, quaisquer que sejam as razões que o inspiram, é um inimigo sem face; não está em parte alguma, estando ao mesmo tempo em todas. Contra ele, de nada valem os exércitos convencionais, vale dizer, aqueles preparados à maneira convencional para enfrentar um inimigo com face, que se encontre em um território definido. Para encontrar-lhes uma função — ou até mesmo para afirmar determinadas políticas que satisfaçam interesses privados ou conquistem apoio político interno —, elaborou-se nos Estados Unidos nova doutrina de emprego, que é político-militar e condiciona em parte a política externa — e novamente com o caráter perverso da causação circular: os Estados Falidos, encontrem-se onde se encontrem no mapa, constituem ameaça à segurança dos Estados Unidos porque abrigam ou podem abrigar organizações terroristas e aquelas que trabalham com o tráfico de drogas ou a lavagem de dinheiro, ações que alimentam o terrorismo, portanto ameaçam a segurança dos Estados Unidos. O espírito que animou a Doutrina Truman — “não podemos permitir mudanças no status quo … por métodos como a coerção ou subterfúgios tais como a infiltração política” — inspira as novas doutrinas de aproximação do terrorismo com uma diferença: a “coerção e a infiltração” são difíceis de detectar quando realizadas por organizações terroristas ou que traficam com drogas ou lavam dinheiro. O que, de novo, faz do adversário um inimigo sem face e traz a definição de “Estado Falido” para um campo subjetivo de enorme extensão.  

 

     No quadro estratégico pós-guerra fria, Cuba é uma exceção na América Ibérica; a ditadura firmemente instalada a partir de 1960, um ano depois de Castro entrar em Havana, conseguiu resistir ao choque da Baía dos Porcos e teve de aceitar o acordo Kruchev-Kennedy para a retirada dos foguetes em troca do compromisso dos Estados Unidos de que não interviriam na ilha. Por toda parte, no Hemisfério, as democracias formais estão protegidas, hoje, por decisões e declarações da Organização dos Estados Americanos que impedem golpes de Estado ou revoluções.  

 

     O fim da Guerra Fria chegou ao Brasil quando a democracia formal já havia sido restabelecida e o “planejamento militar em tempo de paz” feito até o Governo Ernesto Geisel não tinha mais sentido, porquanto a Argentina deixara de ser o Inimigo Nº 1 possível. As atenções, desde o Governo Figueiredo, ainda que a efetivação do Projeto Calha Norte andasse muito lentamente, concentraram-se na defesa da Amazônia, embora não se saiba se na perspectiva de uma invasão convencional ou de infiltrações guerrilheiras.  

 

     Durante toda a Guerra Fria, mais especificamente depois de 1964, essas atenções e o eventual planejamento concentraram-se no combate àquilo que se chamou subversão — denominação que englobou desde movimentos dirigidos tão simplesmente contra a quebra dos padrões político-institucionais de 1964 até ações armadas contra os Governos presididos por militares. A perspectiva histórica permite dizer que não houve uma “doutrina militar” para fazer face a esses dois tipos de ação. A guerrilha foi combatida militarmente onde se a encontrou; o chamado “terrorismo urbano” que consistiu basicamente em assaltos a bancos foi combatido por ações policiais. As ações contra o II Exército em São Paulo e os atentados contra jornais ou consulados estrangeiros aqui e ali podem ser enquadrados na categoria “guerrilha” e como tal foram combatidos.  

 

     Do ponto de vista dessa análise, pode-se dizer que o Brasil não tem uma doutrina militar, isto é, os Estados Maiores não elaboraram seu “planejamento militar em tempo de paz”, constrangidos quer pela política internacional do país, elaborada nos escalões dirigentes do Itamaraty e sancionada pelo Planalto, que a isso se opõe já que, oficialmente, o Brasil não tem inimigos, nem possíveis inimigos, quer pelo crônico desprezo que os Governos pós-1964 dedicaram ao reequipamento das Forças Armadas.  

 

     Para um país da dimensão continental do Brasil, com dez vizinhos nem sempre em situação social e política estável, alguns deles próximos do que se poderia dizer “Estados em situação pré-falimentar”, e cujo balanço energético (o brasileiro) depende, mais e mais, de suprimentos vindos do Exterior, essa postura atenta, ela sim, e por ela só, contra a segurança nacional.  

 

 

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 Leffler, Melvin P., Painter, David S., Origins of the cold war, Routledge, Londres-Nova York, 1994.

 Hartmann, Frederik H., The relations of nations, The Macmillan Company, New York, 1973  

 

 

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